Turismo e esporte: lazer saudável na Terceira Idade
O envelhecimento da população mundial e brasileira é irreversível. Entretanto, a forma de o idoso ser tratado, em nosso país, é um problema cultural que deve ser revisto.
Segundo Meirelles (2000), atualmente, apesar de presente na mídia, a velhice vive seu eterno conflito, ora sendo exaltada na visão platônica (velhice é alma, espírito, saber, ordem), ora sendo degradada como na visão aristotélica (velhice é corpo, é fraqueza, ressentimento, decadência). Na guerra entre a visão platônica e a visão aristotélica da velhice está em jogo a nossa própria humanidade.
No mundo pós-moderno, onde impera um mercado de trabalho em que as qualificações profissionais são altamente valorizadas e o tempo despendido na busca destas qualificações gira em torno de 10 anos, o emprego começa muito mais tarde e acaba muito mais cedo, bem antes do fim da vida, que ficou mais distante.
O problema é: o que fazer com todo esse tempo livre?
O tempo livre é considerado o principal fator de evolução do lazer; mas não é o único. Tempo livre não decorre somente de menos tempo de trabalho, em função da jornada reduzida, semana mais curta e férias, frutos das reivindicações da classe operária. A longevidade, por exemplo, aumenta também o tempo livre, principalmente em comparação com o tempo de trabalho, porém sem relação direta com ele. Vive-se cada vez mais e melhor em função sobretudo do progresso da ciência e da melhoria da qualidade de vida.
Mas conquistar a longevidade em nossa sociedade não é tarefa fácil. É preciso ocupar o idoso, oferecendo-lhe momentos agradáveis em companhia de amigos e familiares. É neste momento que entra o turismo e o esporte, atividades intimamente ligadas ao lazer, que proporcionam atividades compartilhadas, ampliando e diversificando o ambiente social, contribuindo para uma longevidade saudável. É através destas atividades, através dos valores correspondentes que as probabilidades de realização pessoal da terceira idade são mais fortes.
O lazer foi um fenômeno que evoluiu com o crescimento da classe proletária, fruto das transformações econômicas, culturais e espaciais provocadas pela Revolução Industrial do século XIX. No século XX cresceu e valorizou-se, tornando-se um fenômeno de massa. Neste início do século XXI o encontramos em pleno processo de expansão.
Segundo Marcellino (2000), entre os estudiosos do lazer não há ainda um acordo na forma de entende-lo, sendo que podemos distinguir pelo menos duas grandes linhas: a que se fundamenta na variável atitude e considera o lazer como um estilo de vida, portanto independente de um tempo determinado; e a que supõe esse tempo, situando-o como "tempo liberado" do trabalho ou como "tempo livre", não só do trabalho, mas de outras obrigações: familiares, sociais, políticas e religiosas, enfatizando a qualidade das ocupações desenvolvidas.
A tendência dominante entre os especialistas é no sentido de considerar as duas variáveis - tempo e atitude - na conceituação do lazer.
Para Dumazedier, o lazer é um conjunto de ocupações às quais o indivíduo pode entregar-se de livre vontade, seja para repousar, seja para divertir-se, recrear-se e entreter-se ou, ainda para desenvolver sua informação ou formação desinteressada, sua participação social voluntária ou sua livre capacidade criadora, após livrar-se ou desembaraçar-se das obrigações profissionais, familiares e sociais (Dumazedier apud Leite, 1995:16).
O sociólogo Renato Requixa define o lazer: como uma ocupação não obrigatória, de livre escolha do indivíduo que a vive, e cujos valores propiciam condições de recuperação psicossomática e de desenvolvimento pessoal e social (Requixa apud Marcellino, 2000:25).
Em suas definições, Dumazedier e Requixa colocam, ao mesmo tempo, o que entendem por funções do lazer: o descanso, tanto físico quanto mental; o divertimento, como superação da monotonia cotidiana exercida pelas tarefas obrigatórias; e o desenvolvimento da personalidade e da sociabilidade. É importante verificarmos que ambos distinguem lazer de ócio - uma vez que o entendem como ocupação; deixam clara a noção de tempo, mais especificada no conceito de Dumazedier, não se restringindo à consideração de tempo e atividade pura e simplesmente, mas especificando-os em termos de valores, como opostos ao trabalho e às outras esferas de obrigações.
Para os estudiosos Dumazedier (2001) e Marcellino (2000), todas as atividades onde prevalece o movimento, ou o exercício físico, incluindo as diversas modalidades esportivas, dentre elas a natação masters, constituem a classificação do lazer físico. Dumazedier enquadra também as viagens nos lazeres físicos pois, segundo o autor, requerem esforço físico.
Turismo na Terceira Idade
O Turismo é uma atividade econômica representada pelo conjunto de transações - compra e venda de serviços turísticos - efetuadas entre os agentes econômicos do turismo. É gerado pelo deslocamento voluntário e temporário de pessoas para fora dos limites da área ou região em que têm residência fixa, por qualquer motivo, executando-se o de exercer alguma atividade remunerada no local de visita (EMBRATUR, 1992).
O Turismo compreende as atividades que realizam as pessoas durante as suas viagens e estadas em lugares distintos ao de sua residência habitual, por um período de tempo consecutivo inferior a um ano com fins de ócio, por negócio ou outros motivos (OMT, 1994).
Propomos entender o Turismo como o resultado das atividades realizadas por indivíduos ou grupo de indivíduos, durante os seus deslocamentos temporários, quer para satisfazer interesses físicos, sociais, culturais, práticos, artísticos, políticos, econômicos, ecológicos, tecnológicos, em lugares distintos da sua residência habitual fixa.
A classe social proletária, favorecida pelo progresso dos transportes, fez com que crescesse o número de pessoas que viajavam por prazer. O aumento do tempo livre, aliado aos grandes avanços tecnológicos dos transportes e das comunicações originou o chamado turismo de massa. Viajar deixa de ser um privilégio da classe mais abastada e sinal de status, e torna-se mais acessível a um número crescente de pessoas.
Mas o que motiva as pessoas a viajar?
Certamente não existe uma única resposta para esta questão, pois vários fatores estão envolvidos. Porém, um fator estará sempre presente como motivador dos indivíduos - a quebra da rotina, em busca de novos lugares, novas paisagens, pessoas, costumes.
Podemos afirmar que o turismo é uma atividade de lazer. Entretanto, enquanto consumidor, o turista pode revelar suas motivações em outras esferas que não o lazer. Segundo Beni (2000), a demanda por turismo apresenta uma especificidade própria, consoante às diversas motivações, necessidades e interesses dos turistas. Decorrem daí vários tipos de turismo: cultural, da terceira idade, de saúde, empresarial e de negócios, [...], alternativo e desportivo.
Para Andrade (2000), o turismo, segundo o sentido atual do termo, teve seus princípios comprovados como turismo desportivo, na Grécia Antiga, no ano 776 antes de Cristo, com a realização dos primeiros Jogos Olímpicos, que, embora de natureza religiosa em homenagem a Júpiter, apresentavam como seu ponto mais alto as várias competições atléticas. Este tipo de evento acontecia, periodicamente, a cada quatro anos.
As viagens de desportistas, torcedores e atletas tornam-se cada vez mais freqüentes em níveis regionais, nacionais e internacionais, nas mais diversas modalidades esportivas. Os próprios atletas e componentes das delegações que viajam, desde que não sejam profissionais remunerados no exercício específico de prestação de serviços que lhe são próprios, classificam-se como turistas, da mesma forma que todos os desportistas amadores que viajam para praticar seus esportes em cidades, regiões ou países em que não possuem residência habitual fixa (idem, p75).
O direito ao turismo pelas pessoas da terceira idade é assegurado no Código de Ética Mundial para o Turismo, porquanto em seu Artigo 2, que trata do turismo como instrumento de desenvolvimento pessoal e coletivo. No caso do Brasil, o Instituto Brasileiro de Turismo - EMBRATUR - possui uma Política Nacional do Idoso, criada pela Lei Nº 8.842/94, regulamentada pelo Decreto nº 1.948/96 que tem:
O bjetivo de assegurar direitos sociais do idoso, criando condições para promover sua autonomia, integração e participação efetiva na sociedade (Artigo 1º) (Turismo: Visão e Ação, out/2000/mar-2001:19). Os atletas da terceira idade apresentam o perfil ideal para o turista desse segmento etário, que pode viajar em qualquer época do ano, auxiliando na uniformidade do fluxo turístico durante o ano inteiro.
Esporte na Terceira Idade: natação masters
Segundo Silene Okuma envelhecer bem e atividade física estão fortemente associados. Pessoas que passaram dos 40 anos são incentivadas por médicos, psicólogos, fisioterapeutas e professores de educação física à prática constante e moderada de atividades físicas. Os parques são cada vez mais freqüentados por pessoas maduras. Nas academias de ginásticas, clubes e piscinas, onde se viam apenas corpos jovens, magros e bem torneados, já é possível observar senhores e senhoras em convivência com os mais jovens (1998:9).
Ocorrências desse tipo anunciam uma saudável mudança de hábitos e valores em relação à saúde, ao corpo e à convivência entre as gerações. A sociedade está mostrando-se mais preocupada com atividades saudáveis e com os benefícios psicossociais das atividades físicas, comumente indicados por sentimentos de satisfação, felicidade e envolvimento. A criação desse novo estímulo social exerce um efeito positivo sobre as pessoas que envelhecem, as quais passam a aspirar um novo roteiro para as suas vidas.
A natação é uma das modalidades esportivas mais reconhecidas. Oferece menos riscos à integridade física, e traz inúmeros benefícios de ordem funcional e psíquica a todos os indivíduos, desde que tenham acesso à água, no mar, rios, lagos ou piscinas.
No caso dos indivíduos da terceira idade, a Natação Masters surgiu no Brasil, no século XX - inicio da década de 80, como uma categoria e se vinculou aos organismos institucionais que dirigem a natação, no Brasil e no mundo. O desafio exigido pelo esporte e a reconstrução da imagem pessoal, o relacionamento entre as diferentes faixas etárias nos quais ocorre troca de experiências de vida e de afeto são aspectos da Natação Masters, que cria um ambiente que propicia a espontaneidade e elimina os preconceitos, formando grupos e constituindo novas amizades.
A Natação Masters traz excelentes resultados para os idosos. Os benefícios incluem uma diminuição da ansiedade e da tensão, o aprimoramento da autoconfiança e da auto-estima e, logicamente, a sensação de bem estar e melhor qualidade de vida. O idoso, nadando, experimenta sensações bem mais significativas do que caminhando ou correndo, visto que seu corpo, pelo passar dos anos, tende a identificar os estímulos do meio ambiente com mais dificuldade. Nadar significa vencer desafios. A excitação advinda da competição é normalmente superada, representando sempre uma vitória sobre si mesmo (Pável, 1992:132).
Fonte: Portal Todah Elohim / Portal FightTheNewDrug.org / Portal CollectiveShout.org
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